Dos livros não escritos

Certamente tudo o que o homem construiu e venha a construir é natureza. Dentro das artes plásticas, com seus símbolos, metáforas e mitos, surpreende que muito raramente se trabalhe com a matéria recolhida diretamente da terra, como forma e conceito da obra de arte. Quando necessitamos buscar a natureza como magnificência e perpetuidade, através dos milênios a Amazônia aparece  impregnada de conteúdos dos albores do conhecimento humano, da potência do “mistério” que alberga seu território, um amálgama de entidades e percepções onde a terra e o indígena habitam o indivisível, onde a química que corre pelos ramos e caules é a mesma que corre pelas artérias do corpo nativo. O índio associou-se à natureza como um aliado, percebeu que não devia dominá-la nem podia, e certamente tampouco chegou a pensá-lo. Os pajés do Amazonas conheciam desde outra perspectiva os problemas da ciência ocidental, principalmente o que ainda está por descobrir-se e, por isto, desde meados do século XX o número de cientistas que se aproximou para consultar os sábios das tribos da Amazônia foi constante, porque desvelavam o “núcleo” de maneira cognitiva através das mudanças do estado de percepção induzidas e, sempre, as respostas foram surpreendentes, pois estas visões apresentavam facetas não pensadas anteriormente, uma via desconhecida para o Ocidente dualista. Que esta aproximação à percepção desvelada possa acontecer quimicamente já era conhecido, mas aqui nos deparamos com um diálogo de entidades de energia relacionadas com a presença do dialogante. Todas as respostas apareciam dentro de nós sem a possibilidade da dúvida, uma mudança radical na maneira de ver e sentir.  Talvez a necessidade de entrar em contato com esta sabedoria latente e poderosa nos aterrorize por intuir a direção que indique a liberdade de finalmente poder saber.

Publicado en En plenas facultades. AAVV. Museo de Pontevedra, Pontevedra. 2014..