Belém do Pará 1971, Tifariti 2008

Desde o lado da cultura, a impotência do artista é claustrofobicamente evidenciada pela sua incapacidade de interferir nos acontecimentos desesperados de grupos ou pessoas que não contam para o sistema, e morremos por dentro sem conseguir parar o progressivo andar sem retrocesso deste extermínio.

Desde o lado da natureza, a região amazônica e outras florestas perdem fauna e flora a cada minuto, sem pausa. Trinta e sete anos separam a intervenção que fiz com círculos de látex flutuando sobre as águas de um igarapé próximo a Belém do Pará dos círculos de pigmento azul nas areias do deserto do Saara

A Amazônia se acaba enquanto o povo saharauí vem secando, se transformando em pó, em simbiose com a areia. Círculos de pó azul enganando a morte, reflexos de um céu distante e inalcançável.

Fernando Casás

Comunicação no IX Fórum Social Mundial em Belém do Pará, Brasil, janeiro de 2009, acompanhando vídeo do artista sobre sua intervenção no II Encontro Internacional de Arte nos Territórios Liberados do Saara Ocidental.

Belém do Pará 1971, Tifariti 2008. Treinta y siete años separan una intervención que hice con círculos de savia de caucho sobre el agua de un brazo de río en las proximidades de Belém do Pará y unos círculos de pigmento azul sobre las arenas del Desierto del Sahara.

Desde el lado de la cultura, la impotencia del artista es claustrofobicamente evidenciada por su incapacidad de interferir en los desesperados acontecimientos de grupos o de personas que no cuentan para el sistema, y nos morimos por dentro sin conseguir frenar el progresivo caminar sin retroceso de este exterminio.

La región amazónica perdía su fauna y flora a cada minuto, sin pausa.

Hoy, el pueblo saharaui va secándose, transformándose en polvo, en simbiosis con la arena. Círculos de polvo azul engañando a la muerte.

Fernando Casás