A volta dos 9

Num instante eterno de 1936 uma borboleta levanta vôo com nove cruzes nas suas asas. Neste exato momento a ilusão deixa de existir. Durante décadas, esta e muitas outras borboletas voaram levando legiões de mortos como se tratasse de uma penitência infinita.

Nossa borboleta está hoje diante de nós, sobre um tronco firme e metálico, com sabor a bronze e costuras de feridas aparentes que forçam a que todos nós nos soldemos.

É um tronco cortado, descepado, uma representação daquilo que um dia foi vida. Registro e Memória.

Quarenta e cinco loureiros em constante transformação alimentam esse tronco. Nove cruzes que se multiplicam, que emanam consciência, e a possibilidade de que essa nossa borboleta e muitas outras possam descansar suas cruzes nas ramas das árvores que crescem y glorificam aos heróis que já não necessitam se esconder.

A borboleta finalmente encontra seu lugar.

* Fernando Casás.
Comunicação lida na inauguração da escultura Volta dos 9 que toma seu nome do lugar onde foram mortas nove pessoas durante a Guerra Civil Espanhola, e que se compõe de um tronco de bronze e um bosque de quarenta e cinco loureiros plantados à sua volta. Baiona. 2005
Publicado en Arte y Naturaleza: 1994 / 2014..Alberto Carneiro y Fernando Casás. Diputación de Huesca. Huesca. 2014
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